Companhias majestáticas e arrendatarias em Mocambique
Companhia de Moçambique
Compreendia
uma área de 134822 km2 limitada entre o rio Zambeze (norte e
noroeste) e o paralelo 22º (sul) e entre o Índico (este), e a Rodésia do Sul
(oeste); compreendia portanto as actuais províncias de Sofala e Manica. Durou
quase 45 anos (1897-1942), quando o decreto de Maio de 1897 fixou
definitivamente o prazo da sua validade jurídica como Companhia Soberana,
indicando para o termo do contrato a ano de 1942.
São
ditas como causas de sua implantação: a criação da British South Africa
Company (B.S.A.C.) na Rodésia do Sul, a qual sentia necessidade de manter
uma companhia com idênticas características (privilégios político-económicos)
na zona de influência portuguesa.
As
acções para a sua formação começam em 1878, por Paiva de Andrade com a Société
des Fundateurs de la Compagnie Général du Zambeze (1888); falida esta, em
1893, cria a Companhia de Ophir em 1884, que também viria a cair. Daí que em
1888-1889 forma a Primeira Companhia de Moçambique.
É
de salientar que a ocupação de Manica e Sofala pela Compª. Majestática de Moç.
marca, na história da região, a transição do período mercantil para o período
de dominação imperialista; começa, desde então, a produção capitalista no
território, especialmente do capitalismo colonial.
Direitos da Companhia
·
Exploração dos territórios
e da população que estavam sob seus domínios;
·
Colectar taxas e impostos
de palhota e de capitação (mussoco);
·
Exploração de mão-de-obra
para países vizinhos;
·
Construir e explorar vias
de comunicação (estradas, portos, pontes, caminhos-de-ferro); conceder terras a
terceiros;
·
Privilégios bancários
e fiscais (emitir moedas e selos).
Deveres
Pagar
10% dos dividendos distribuídos em 7,5% dos lucros líquidos totais; tinha o
dever de manter a sua sede em Lisboa e dever de a manter-se Companhia.
Portuguesa no estatuto (formalmente a Companhia tinha de ser portuguesa);
entregar os territórios ocupados após expirado o contrato.
Política concessionária
Ela
baseava-se no direito de posse sobre a terra conferido por uma Carta
Concessionária, fazendo assim o arrendamento de terra para as áreas da:
- Agricultura - concessão do Prazo Gorongoza à Compª. de Gorongoza (1895), prazo de Chupanga à Compª. de Luabo, concessão de terrenos em Marromeu, Buzi e Moribane à Sociedade Açucareira da África Oriental (1900). Isto originou a queda do campesinato africano que se viu privado das suas terras mais férteis e favoráveis à prática da agricultura;
- Mineração - concede títulos de exploração de pedras e metais preciosos e de minas em geral em Macequece, Manica;
- Construção - portos e vias de comunicação, o que resulta na construção do Porto da Beira e Linha Férrea pela The Port of Beira Development Corporation.
- Esta, para tal, instalou a Delegação do Serviço dos Negócios Indígenas para recrutar a mão-de-obra.
Companhia do Niassa
A
2ª Comp. Majestática (com privilégios de ocupação, administração e exploração
da área ocupada), explorando 25% do território moçambicano (todo o extremo
norte) desde 1991. Compreendia a área Entre-Os-Rios Rovuma (norte) e Lúrio
(sul), o Oceano Índico (este) e Lago Niassa (oeste). Portanto, a Companhia do
Niassa ocupava várias áreas deixadas pelo Estado português; todavia, sem
capitais para investir e gerir toda essa extensão de terras, a companhia
começou com uma máquina assente nas baionetas, sipaios e administradores. A
resistência maconde foi uma das últimas da Companhia e de Moçambique.
E
com domínio dos macondes Portugal, em sinal de reconhecimento e ‘agredecimento'
aos proprietários da companhia, concede-lhes privilégios magestáticos, por 35
anos; a companhia só se instala em Outubro de 1894. Ela obrigava os camponeses
a cultivar milho, arroz, mexoeira, gergelim, feijão, mandioca, café, goma
copal, urzela e cera que levava para o sul de Moç. e Zanzibar; e também
obrigava os camponeses a entregar à companhia marfim, pau-preto e borracha que
tivessem.
A
Comp. foi comprada por capitais franceses e ingleses. Não tinha muita capacidade
financeira, razão pela qual passava de um accionista para outro: 1897-1913 -
Ibo Syndicate; 1899 - Ibo Investiment Trust; 1909-1913 - Niassa Consolidated
onde o consórcio bancário alemão adquiriu a maioria das acções da Niassa
Consolidated para apoiar o projecto alemão de aquisição do Norte de Moç.
(projecto não bem visto por Portugal); daí que durante a I Guerra Mundial os
ingleses (a pedido de Portugal) confiscaram as acções alemães. Em 1929, a Comp.
do Niassa extinguiu-se a sua actividade.
Direitos
- Cobrança de imposto de palhota;
- Exportação de mão-de-obra para as minas da África do (Sul até 1912);
- Utilização do trabalho forçado para as machambas;
- Monopólio das taxas aduaneiras de importação e exportação de produtos e comércio das armas.
Companhia da Zambézia
Fundada
em Maio de 1892 e relíquia de Paiva de Andrade, ocupava as áreas de Chire,
fronteira com Niassalândia e a futura Rodésia do Norte, entre Zumbo e Luenha.
Ela nasce da fusão da Sociedade dos Fundadores da Companhia Geral da
Zambézia (1880) com a Central Africa And Zouthamberg Exploration Company.
Explorava
parte dos territórios da Zambézia e Tete; foi uma dais extensas companhias.
Subjugou as companhias já existentes em Quelimane. Ela foi uma máquina de
conquista de terras insubmissas do distrito de Tete e depois Quelimane, onde
extraía o imposto de capitação (mussoco) e os trabalhadores para os trabalhos
agrícolas.
Nos
seus primeiros 10-15 anos, a Comp. teve actividades repressivas e predatórias.
Com o progresso da “pacificação”, as terras altas de Quelimane e Angónia,
depressa se revelaram como reservatórios de mão-de-obra importada para a África
do Sul e depois para S. Tomé. Quelimane ia conhecer, pelo menos, 5 a 6 novas
companhias que iriam desempenhar um papel determinante no plano económico
(Compa. de Boror, Luabo, Compa. De Açúcar de Moç., Maganja Sociedade do Madal,
etc.). É de salientar que a Compa. da Zambézia não tinha privilégios pois era
concessionária.
Comentários
Enviar um comentário